Você já se perguntou por que sentimos um aperto no peito quando estamos tristes? Ou por que nossas mãos suam quando estamos nervosos? É porque nosso corpo, nossas emoções e nossos afetos estão profundamente conectados. A história nos mostra que, por muito tempo, a busca pelo conhecimento nos levou a fragmentar o ser humano, separando a mente do corpo, a razão da emoção. Não restam dúvidas de que essa divisão - necessária e pedagógica - nos trouxe mais mal do que bem na praticidade da vida. Hoje, mais do que nunca, se faz necessário resgatar a unidade do nosso ser, reconhecendo essa profunda interconexão.
De acordo com os estudos do renomado neurocientista Bessel van der Kolk, nosso corpo é a base da nossa experiência no mundo, pois é através dele que sentimos, percebemos e interagimos com a realidade. Ou seja, é ele e nele que reside o centro de nossas sensações, percepções e comportamentos.
Quando olhamos para as emoções, tomando Freud como ponto de partida, elas são respostas complexas aos estímulos internos e externos, que envolvem alterações fisiológicas, comportamentais e cognitivas. Ou seja, elas nos atravessam e moldam nossas percepções e ações.
Enquanto os afetos, para o neurocientista Jaak Panksepp, funcionam como unidades básicas da emoção, padrões inatos e universais que moldam nosso comportamento social e de sobrevivência. Ou seja, são a essência de quem somos, a base de nosso comportamento de busca por conexão e pertencimento ao ambiente.
Separar corpo, emoções e afetos é como tentar dividir a água em seus elementos: oxigênio e hidrogênio. Sozinhos, perdem sua essência, sua capacidade de criar vida. Negar essa conexão é negar a si mesmo, é abrir mão de uma parte fundamental do que nos torna humanos. A saúde mental e emocional sofre. Sentimo-nos desconectados de nós mesmos, ansiosos, deprimidos. É como tentar viver uma vida sem cores.
Através dos avanços na neurociência afetiva, estamos entendendo cada vez mais essa realidade: corpo, emoções e afetos são uma unidade complexa e vital. Nosso cérebro emocional se comunica diretamente com nosso corpo e vice-versa. Quem nunca sentiu medo e com ele o aumento das batidas do coração? Ou quando nos apaixonamos e surgem as borboletas no estômago? Tenho que te dizer: a dor nas costas pode ser um reflexo de uma ansiedade. A raiva reprimida pode se manifestar como problemas digestivos. E exemplos dessa interação não nos faltam?
Pense em um atleta que sente medo antes de uma competição, ou uma pessoa comum antes de tomar uma decisão importante: o corpo fica tenso, menos flexível, incapaz de expressar as nuances da emoção.
A expressão corporal é a prova dessa interação, tome um rosto sem expressão, incapaz de comunicar a riqueza dos afetos. Nessa dança, a emoção guia o corpo e o corpo expressa a emoção.
É por conta desse cenário fragmentado que os distúrbios mentais só aumentam. A depressão se alimenta da desconexão com o corpo e suas sensações. A ansiedade se manifesta em pensamentos obsessivos e tensão muscular. O trauma se esconde nas memórias corporais e nas emoções reprimidas.
A verdadeira cura, portanto, não pode se limitar à mente. Ela precisa abraçar a integridade do ser humano, reconhecendo a profunda interconexão entre corpo, emoções e afetos. Um tratamento, baseado em evidências científicas, que integre psicoterapias e técnicas corporais é a luz no fim desse túnel.
É isso: corpo, emoções e afetos são uma só melodia, uma só dança, uma só vida. Abrace sua totalidade e desvende a sinfonia que existe dentro de você.
Autoria: Wesley Allisson