Já se pegou querendo algo, mas ao mesmo tempo fugindo disso? Ou dizendo "sim" quando tudo dentro de você grita "não"? Esse é o dilema de quem vive com sentimentos ambivalentes. Todos nós, em algum momento, nos deparamos com decisões confusas, em que os sentimentos parecem nos puxar para lados opostos. Relaxa, isso é normal! Mas e quando isso se torna uma constante? Quando essa dualidade começa a impactar nossas relações, nossa carreira e até mesmo nossa saúde mental? Aí mora o perigo. A ambivalência pode nos paralisar, nos afastar de quem amamos e gerar uma confusão interna que parece impossível de resolver.
Mas o que é, de fato, um comportamento ambivalente? Na psicanálise freudiana, esse termo se refere à coexistência de sentimentos opostos, como amor e ódio, em relação a uma mesma pessoa ou situação. Sabe aquela pessoa que você ama profundamente, mas que, em certos momentos, desperta sua raiva? Ou aquela escolha profissional que você deseja, mas que também traz medo? Esse conflito interno entre o desejo e a aversão é um exemplo clássico de ambivalência. Freud descreveu isso como uma característica intrínseca das nossas emoções. A vida, segundo ele, é marcada por forças contraditórias que coexistem no inconsciente.
A origem dos comportamentos ambivalentes, ainda segundo Freud, está profundamente enraizada nas primeiras fases da vida. Nos nossos primeiros vínculos afetivos, principalmente com nossos cuidadores, vivemos uma mistura de amor e frustração. Esse conflito inicial gera uma marca que levamos para a vida adulta. Se, na infância, essas experiências não são bem resolvidas, carregamos essa ambivalência para todas as nossas relações. É por isso que, muitas vezes, nos sentimos divididos entre querer nos aproximar e ao mesmo tempo nos afastar das pessoas. Freud chama isso de "dualidade pulsional", um embate entre o impulso de vida e o impulso de morte, que se manifesta em nossas decisões cotidianas.
Viver com comportamentos ambivalentes pode ser extremamente doloroso. Quem sofre com isso experimenta uma constante incerteza. Nos relacionamentos afetivos, por exemplo, a pessoa pode amar intensamente, mas, ao mesmo tempo, sentir um medo irracional de ser magoada. Isso gera distanciamento, brigas e desentendimentos. No ambiente de trabalho, essa ambiguidade pode fazer com que oportunidades sejam perdidas, já que a pessoa se sente incapaz de tomar uma decisão firme. E, no dia a dia, essa indecisão pode tornar até as tarefas mais simples em dilemas. Não é apenas uma questão de "não saber o que quer" - é uma luta interna constante, que desgasta e isola.
Felizmente, existe uma saída. A terapia é o caminho mais indicado para entender, elaborar e transformar esses comportamentos. O desenvolvimento terapêutico do IGM ajuda a pessoa a tomar consciência dessas forças opostas que atuam no inconsciente, promovendo uma reconciliação interna. Através do processo terapêutico, é possível reconhecer de onde vêm esses sentimentos contraditórios e, gradualmente, aprender a lidar com eles de forma mais equilibrada. Não se trata de eliminar o conflito, mas de aprender a navegar por ele de forma saudável.
No fim das contas, todos nós somos feitos de contradições. Mas a diferença está em como lidamos com elas. A terapia nos ensina a parar de fugir de nós mesmos e a encarar o que está por trás dessa ambivalência. E, ao fazermos isso, começamos a viver de forma mais plena, com mais clareza e menos dúvidas. Porque, no fundo, o que todos nós queremos é estar em paz com nossas escolhas e emoções.
Autoria: Wesley Allisson