Comunicação é importante para criar e manter qualquer relação, mas quando se trata de relação afetiva, a boa comunicação é palavra de ordem. Não basta apenas que ela exista; é necessário que ela seja efetiva, eficaz e assertiva, e claro, sem acabar com a magia entre os pares.
É preciso que o encantamento, a admiração e o interesse permaneçam, mas que a comunicação seja clara, dinâmica, desembaraçada, com acolhimento e compreensão, estabelecendo limites, criando confiança, ensejando segurança e entrega, estabelecendo entre o par uma via de mão dupla de escuta e fala, onde os acordos serão estabelecidos e desenhados a partir dos desejos e buscas de cada um, respeitando suas capacidades e necessidades, almejando como finalidade a satisfação da unidade casal.
Falando assim, parece simples e fácil, quase óbvio, automático mesmo, né!? Parece que a partir do momento que dizemos o sim, seja ele formal, cheio de pompa e circunstância, ou simples, juntando as escovas de dentes, que essa aura de simbiose e harmonia nos invade. Parece que ao decidirmos viver uma vida a dois, todas as nossas vontades, pensamentos, metas, sonhos e fantasias se transformam em um só. E mais, parece que num passe de mágica ficamos felizes com a felicidade do outro, e que tudo se encaixa perfeitamente de maneira natural e orgânica, sem esforço, como num conto de fadas... Ah, o amor... Tão lindo!!!
Parece, né!? É! Mas só parece... Não se iluda, não pira! Nas histórias reais, há muito, mas muuuuuuito mais transpiração do que inspiração. Dos contos de fadas restam muito pouco, quase nada. Talvez a parte da Bruxa seja o que perdure, pois nos transformamos nela todas as vezes que reclamamos de algo e puxamos aquela DR "gostosa", mas necessária, para tentar fazer essa coisa de casamento durar até o fim do dia...
É uma loucura total, sem saber se o "felizes" voltará a acontecer um dia, mas com plena certeza de que o "pra sempre" não existe, insanamente continuamos a aventura da vida a dois, e depois de uma longa conversa, entre mortos e feridos... Lá se vão alguns sonhos, fantasias e idealizações pueris... Concluímos que está longe de ser fácil, mas que sim, é possível chegar até semana que vem com alegria, e algum tesão.
Mas essa conclusão não cai no colo da gente, nãaaao, nada disso. Aliás, a essa altura, você já percebeu que coisa alguma brota do nada, você já sacou que é preciso ajeitar as coisas e dar uma forcinha pro universo pra conseguir o que você quer, né?! E aqui na relação a dois não é diferente, não. É preciso se comunicar, mais do que isso, é preciso se expressar...
A expressão é um tipo de comunicação mais completa e sofisticada, que vai para além de dizer algo. Ela entrega para o seu interlocutor (aquele que te escuta) um pouco de você.
E quando você fala, se comunica, entregando para o outro um pouco de você, ele se sente seguro a entregar um pouco dele também... E, bingo!!! É neste momento que a mágica acontece: eu falo contigo e entrego um pouco de mim, você se sente seguro e confortável e me entrega um pouco de você. A partir dessa troca, conseguimos algo além do comunicar, estabelecemos conexão.
É na conexão, nessa palavrinha quase ordinária, que mora toda e qualquer possibilidade dos muros da relação a dois se ampliarem, e a partir daí cria-se de fato um espaço seguro de troca entre os pares, onde existam acordos reais e alinhados, contemplando e respeitando a individualidade de cada um, mas encontrando um ponto de intersecção, onde ambos se encontram e são contemplados juntos, criando então a unidade casal, fruto da união dos pares enquanto indivíduos.
É com a conexão estabelecida que as expectativas são reveladas, os limites comunicados e fixados, as verdades ditas, algumas ilusões desfeitas, outras mantidas, a realidade enxergada e, sobretudo e mais importante, a vontade de seguir caminhando juntos, ratificada.
Sim, é a partir de cada novo aceite que uma nova união se concretiza e subsiste, até que outra chegue e tome seu espaço, deixando a antiga para trás, e assim se segue cumprindo o curso, uma após outra...
O "felizes para sempre", o "casamento pra vida toda" não existe, não dessa forma compulsória e contingente. Não, não é real. O "pra sempre", pressupondo que tudo se mantém igual do início ao fim, é impossível. A vida muda, os interesses mudam, e com eles as necessidades, os desejos, as metas, os sonhos, as buscas, a gente muda...
O que ontem satisfazia, hoje não satisfaz mais. O "pra sempre" não existe de verdade, é retórico, metafórico, uma figura de linguagem...
O que existe são um monte de novos começos, com muitos casamentos com a mesma pessoa, que grudadinhos um no outro, dão a impressão de um casamentão pra vida toda. O que de fato existe são muitas novas ratificações, decisões de seguir caminhando lado a lado, não com aquela pessoa do sim original, mas com essa nova, que acorda dia após dia ao seu lado...