Quem nunca tentou mudar um hábito e falhou? Quem nunca fez uma promessa de ano novo que não durou nem uma semana? É comum ouvir que mudar comportamentos é difícil, que hábitos estão enraizados, que é preciso força de vontade quase sobre-humana. Mas será que é mesmo tão complicado? Ou será que estamos olhando para a mudança de um jeito que não nos favorece? Vamos pensar juntos.
Pense em uma criança que coloca o dedo na tomada e imediatamente retira, sentindo o choque. Ela aprende, naquele momento, que não deve repetir esse comportamento. Por quê? Porque, instintivamente, ela sabe que aquilo é perigoso. Esse é o ponto: quando nossa sobrevivência está em risco, nosso cérebro grava essa informação com intensidade. Isso é aprendizagem. Aprendemos pelo impacto, pelo que ameaça ou protege nossa vida.
E se todo comportamento que repetimos estivesse ligado a uma forma de aprendizado? Comportamento nada mais é do que a manifestação de algo que aprendemos, seja na infância, na adolescência ou até na vida adulta. Hábitos são comportamentos que se repetem porque, de alguma forma, eles trazem um benefício. A criança aprendeu que a tomada é perigosa, e nunca mais vai colocar o dedo lá. Mas e nós, adultos? O que temos aprendido que nos mantém repetindo os mesmos comportamentos, mesmo quando não são saudáveis?
Na psicanálise freudiana, todos os comportamentos são mantidos por um ganho. Às vezes, não estamos conscientes do que estamos ganhando, mas sempre há algo. Talvez seja o conforto de não enfrentar o novo, o prazer imediato de um hábito ruim, ou até a ilusão de controle. Para Freud, nada é feito sem um propósito. Quando repetimos um comportamento, mesmo que nos faça mal, é porque algo, em algum nível, nos traz um benefício ? mesmo que seja inconsciente.
Já para a neurociência afetiva de Jaak Panksepp, o que nos motiva a agir são os sistemas afetivos que envolvem emoções primárias, como o medo, o desejo e o cuidado. Nós mantemos um comportamento porque ele ativa algum sistema emocional, que nos faz sentir de uma determinada forma. Alterar esse comportamento só acontece quando outra emoção, geralmente mais forte, toma seu lugar. Quando o medo de algo, por exemplo, é maior do que o prazer que aquela ação nos traz, aí sim, estamos prontos para mudar.
E se juntarmos essas duas teorias, o que descobrimos? Que mudar um comportamento em si não é difícil. Difícil é aceitar que gostamos do que fazemos, mesmo quando isso nos prejudica. Difícil é admitir que, para mudar, precisamos abrir mão de algo que traz um ganho emocional, por menor que ele seja. Mudar não é impossível. O segredo está em identificar o que estamos ganhando e qual afeto está por trás do comportamento. A verdadeira dificuldade está em nos questionarmos: estamos dispostos a abrir mão desse ganho?
É aqui que o processo terapêutico entra. No desenvolvimento terapêutico do IGM, o inconsciente se torna consciente. O que está oculto, o que motiva nossos comportamentos, vem à tona. Ao tornar conscientes os afetos que estão por trás das nossas ações, conseguimos finalmente olhar de frente para o que realmente precisamos mudar. Sem máscaras, sem desculpas, apenas com a verdade.
Em resumo, mudar comportamentos não é o bicho-papão que pintamos. O que torna a mudança difícil é a nossa resistência a abandonar o ganho emocional que aquele comportamento nos proporciona. Mas com o autoconhecimento, guiado por um processo terapêutico eficaz, essa mudança é possível. O segredo é simples: identifique o que você está ganhando e pergunte a si mesmo ? estou pronto para abrir mão disso?
Porque, no fim, não é o comportamento que é difícil de mudar, é a nossa resistência à mudança que nos prende.