Há momentos em que a mente parece estar presa em um ciclo de pensamentos repetitivos, aqueles que surgem sem que a gente tenha pedido e, de repente, ocupam todo o espaço. Pensamentos negativos que podem começar de forma sutil, mas que vão ganhando força. E logo, a nossa mente cria uma narrativa que parece impossível de parar. O que fazer com isso?
A primeira coisa a se considerar é que não há uma fórmula mágica para lidar com esses pensamentos. Cada pessoa tem um jeito único de sentir e de interpretar suas emoções, e é por isso que estratégias prontas muitas vezes não funcionam. Aqui, a ideia não é tentar suprimir ou forçar uma mudança rápida, mas acolher o que está surgindo. Porque sim, até os pensamentos mais incômodos têm algo a dizer.
Acolher ao invés de fugir
É natural querer fugir de pensamentos que incomodam. A nossa primeira reação, muitas vezes, é tentar afastar o desconforto, nos distrair ou nos forçar a pensar de forma "positiva". Mas será que essa é a solução? Fugir de algo que nos incomoda apenas faz com que ele retorne em outro momento, talvez ainda mais forte.
Acolher não é concordar, e isso é importante lembrar. Acolher é permitir que o pensamento exista, sem julgá-lo imediatamente, sem tentar negá-lo. É criar um espaço de pausa. Respirar.
Quando você se dá essa pausa, a mente começa a perceber que não está sendo pressionada. Que não precisa lutar contra algo. E, nesse espaço, você pode começar a olhar para o pensamento de uma forma mais curiosa. Perguntar-se: "Por que estou me sentindo assim agora?" ou "O que esse pensamento está tentando me mostrar sobre o momento que estou vivendo?".
O valor das perguntas honestas
Em vez de se forçar a mudar ou melhorar imediatamente, permita-se perguntar: "O que esse pensamento está me trazendo?". Às vezes, o pensamento negativo não é o problema em si, mas uma reação a algo que você ainda não processou ou entendeu completamente.
Talvez ele esteja relacionado a uma dúvida antiga, ou a uma situação que ainda não foi resolvida. Ou talvez, ele seja apenas um reflexo de um dia mais desafiador, onde o cansaço ou as frustrações tomaram conta. Dar nome ao que você sente é o primeiro passo para se distanciar um pouco do peso dessas emoções, sem negá-las.
Perguntar de forma honesta e respeitosa consigo mesmo é um ato de autocuidado. É como dizer a si mesmo: "Eu me permito sentir isso agora, sem pressa de resolver. Vou me dar o tempo de entender."
A transformação não é forçada
Transformar um pensamento negativo não é o mesmo que se forçar a pensar positivo. Esse caminho muitas vezes leva à frustração. O que transforma, de verdade, é o processo de dar clareza ao que está acontecendo. Quando você acolhe o pensamento e se permite questionar o que ele está tentando dizer, ele começa a perder aquela força sufocante.
Um exemplo simples: se você se pega pensando "Eu sempre erro", ao invés de tentar forçar o oposto, pergunte-se: "O que posso aprender com essa situação?". Isso não significa que você está ignorando o que sente, mas que está dando um novo significado àquele pensamento, algo que te permita agir de forma mais equilibrada.
A transformação vem desse processo de tornar o pensamento mais claro, mais compreensível para você. E isso não exige pressa. Acolher e processar são movimentos que caminham juntos, e cada pessoa tem o seu próprio tempo.
Praticar o acolhimento diariamente
Lidar com pensamentos negativos é uma prática constante. Não é uma habilidade que você adquire de uma vez por todas, mas um processo contínuo. O importante aqui é entender que não há problema em ter dias mais difíceis, ou em sentir que está voltando para padrões antigos. Faz parte do aprendizado.
O acolhimento é algo que você pode praticar todos os dias, começando com pequenas pausas. Um momento para respirar, para ouvir sua própria mente sem tentar silenciá-la. Esse tempo que você se dá é o que abre espaço para que os pensamentos se transformem com mais leveza.
Questões que podem te guiar
Algumas perguntas podem te ajudar a trilhar esse caminho de forma mais consciente e acolhedora. Ao longo do processo, reflita:
- Qual é a emoção que está por trás desse pensamento?
- O que esse pensamento está pedindo que eu veja com mais atenção?
- Estou tentando me forçar a resolver isso rapidamente ou estou me permitindo entender?
- Que espaço eu posso criar para acolher o que estou sentindo, sem me cobrar uma mudança imediata?
Essas reflexões podem ser o início de um caminho mais suave de lidar com seus pensamentos, sem pressa e com mais gentileza consigo mesmo.
Autoria: Bruno Vicente