Muito se fala de Tantra como um caminho para sexualidade plena e ressignificada, o alcance de prazer nunca antes sentido, uma saída para a mesmice das relações, um apimentar do casamento, uma solução mágica, aquela tão sonhada e bem vinda novidade que proporcionará um vigor extra a uma vidinha sexual já desgastada pelo tempo.
O Tantra pode ser isso também, mas tem mais, muito mais.
O Tantra nasce há 5 mil anos como busca ao estado meditativo (momento perseguido na meditação), caminho de iluminação e, consequentemente, a expansão espiritual. Ocorre que os meditadores em suas práticas percebem em algum momento que a sensação mais próxima do estado meditativo era a sensação orgástica, no momento exato do orgasmo experiencia-se o pleno estado meditativo.
Começam, a partir desse momento, a utilizar a energia sexual para meditar através do orgasmo e aproveitam o orgasmo com finalidade espiritual. Práticas são desenvolvidas para aumentar o tempo do orgasmo, torná-lo mais longo, duradouro, sucessivo e consequentemente manter-se mais tempo em estado meditativo, em contato com sua essência e promovendo expansão físico, mental e espiritual. A finalidade do orgasmo nessa circunstância é diferente, não é orgasmar para melhorar a vida sexual e a qualidade do orgasmo, não, é utilizar o orgasmo para meditar.
Nesse contexto, nasce o Sexo Tântrico, um conjunto de práticas e ritos, que servem tão somente como ferramenta para aumentar o tempo da sensação orgástica, para se manter mais tempo em contato com o estado meditativo, não para aumentar o prazer sexual, trabalhar a libido, erotizar as relações ou apimentar os casamentos, nada disso, a busca era espiritual, meditativa e de expansão e transformação do ser humano.
Aqui no Ocidente, temos a impressão de que o Tantra está a serviço da sexualidade, a proposta é "ressignifique sua vida sexual, crie uma nova sexualidade para um nova humanidade", mas não, na filosofia original, é exatamente o contrário, a sexualidade está a serviço do Tantra, utilize sua energia vital (energia sexual, de criatividade e criação) para ressignificar não apenas sua sexualidade, mas sim a sua existência. Neste sentido, percebemos o quão mais amplo é o conceito do Tantra.
O Tantra contempla e engloba bem mais que a sexualidade, ser Tântrico é um estilo de vida. Não é apenas fazer sexo por horas e com um prazer potente, não, praticar o Tantra é olhar para vida de maneira diferente, mais ampla, mais abrangente.
Aguçar a percepção sobre o mundo externo, mas, mais ainda, voltar os olhos para o interno. Tudo que necessitamos, na maioria das vezes já possuímos, basta tomarmos consciência e descobrirmos o caminho de acesso. O Tantra te coloca de frente com suas vontades e desejos e promove uma real transformação, pois pinça de maneira muito certeira nossas prioridades.
Retira os véus e nos apresenta nossas fragilidades, dúvidas, rancores, receios e os meandros mais tortuosos, aos quais nos submetemos por comodismo ou medo. Entramos realmente em contato com a essência mais ancestral do nosso ser, que às vezes nem mesmo nós sabíamos que possuíamos.
Enfim, o Tantra, enquanto finalidade real, promove um autoconhecimento profundo, a busca não é apenas procurar as respostas certas, mas, antes de tudo, melhorar e exercitar as perguntas e assim promover a real transformação, a interna.
Mas, e sobre a vida sexual, a tal ressignificação, o expandir de sensações, essa nova sexualidade capaz de levantar e sacudir qualquer relação, que promete salvar casamentos a muito soterrados pelo desgaste e ornamentado pela rotina? Era mentira, não existe, foi um truque de marketing? Mas isso muito me interessava, estava tão feliz com a possibilidade de trazer algo novo pra minha vida, e agora????
E agora, acalme-se, não se desespere, realmente o Tantra não nasce como paliativo, coadjuvante ou alternativa a uma vida sexual moribunda, o seu fim nunca foi tratar ejaculação precoce (ejaculação rápida) ou anorgasmia (ausência de orgasmo), muito menos apimentar relações, erotizar ou alimentar fantasias, promover sexo grupal, nada disso, mas é inegável admitir que viver o Tantra em sua essência, com a finalidade de expansão e meditação, pratica-se muito, sensibiliza-se sim o corpo e aprende-se caminhos e potencialidades antes desconhecidos. É um redescobrir-se, e sim, toda essa prática reflete na vida sexual de maneira significativa, podendo então sim: tratar disfunções sexuais, aumentar a sensibilidade do corpo, promover maior conexão e integração do casal, ampliar a sensação de orgasmo e, neste contexto, trazer novidades e apresentar sim aos pares uma sexualidade diferente, ressignificada.
O Tantra é o caminho da transformação, mas é também o caminho da liberdade, da naturalidade, da fluidez. Um dos seus efeitos mais marcantes é abrir percepções e possibilidades, então, não faria sentido eu escrever para dizer que Tantra não serve para você que está lendo, não, não, não, ao contrário, o Tantra serve e está a disposição de todos que queiram com ele brincar. Nossa missão é tornar o Tantra cotidiano, acessível, natural, trazê-lo ao alcance de todos quantos queiram conhecer, experienciar e vivenciar seus benefícios.
Queremos trazer ao alcance de todos o Tantra real, original, não deturpado, um trabalho sério que pode sim amplificar o seu prazer, renovar sua vida sexual, mas que pode ir muito além disso, não podemos jamais esquecer que tudo que se alcança com as práticas tântricas em prol da vida sexual é um efeito reflexo, potente, real, resolutivo, mas reflexo. Não podemos, por conta de resultados tão poderosos do Tantra dentro da sexualidade, encaixotá-lo e afastar sua função primeira, que é a de proporcionar autoconhecimento, expansão, conexão e um caminhar em busca do real encontro com a essência do ser: a iluminação pessoal. Em outras palavras, o Tantra possibilita vivermos uma vida de paz e felicidade, independentemente do caos ao nosso redor, uma vida com menos sofrimento e com muito mais sabedoria, saindo da ignorância e do egocentrismo, aprendendo a compaixão, o amor e o respeito ao próximo.
Escrito por: Bruno Vicente